Europe needs us. The World needs us. Now is our time.

António Baldaque da Silva | 14 Mar 2025

A Europa precisa de nós. O mundo precisa de nós. As futuras gerações dependem de nós. Vamos estar à altura?

As democracias liberais e o progresso social partilhado trouxeram-nos um desenvolvimento económico e social sem paralelo nos dois últimos séculos. Este desenvolvimento foi possível porque foi baseado no conhecimento científico, no estado de direito, numa imprensa livre e na educação, saúde e oportunidades para todos. Atualmente, o contexto em que este desenvolvimento foi possível parece estar em claro retrocesso.

Normalmente, retrocessos numas áreas são compensados por avanços noutras. Infelizmente, nesta altura, é difícil perceber onde nos poderemos apoiar para avançar com confiança. Pelo contrário, as várias tendências globais de longo prazo parecem trazer preocupações adicionais: Temos níveis globais de dívida pública altos e crescentes; temos uma população global envelhecida e uma crise significativa nas nossas taxas de natalidade; temos desigualdades económicas e sociais globais gritantes; temos avanços tecnológicos não regulados, nomeadamente na área da inteligência artificial; … e temos esse outro problema, o das mudanças climáticas e da perda significativa da biodiversidade.

Este último problema é talvez o mais grave, porque é de natureza física e em muitas áreas irreversível. Mas a verdade é que nos últimos séculos, a ação humana tem já claramente mudado o nosso planeta. Qual é então a novidade? Estaremos apenas a ser saudosistas num mundo e numa sociedade em constante evolução? Penso não ser o caso. As decisões que tomarmos nos próximos 50 a 100 anos – duas ou três gerações – poderão alterar de forma irremediável o mundo físico em que as milhares de gerações futuras irão viver. Esta capacidade é claramente nova e de acordo com as Nações Unidas, é a definição pura e dura de desenvolvimento insustentável. 

Dadas as políticas de transição energética correntes – cujo ritmo, dado os problemas acima identificados, vai tender a abrandar – estamos provavelmente a apontar para um aquecimento global de cerca de 2.5ºC/3ºC no final do século (e talvez 1ºC acima deste valor na Europa do Sul). A ciência é clara: a estes níveis de aquecimento global o nosso planeta será bem diferente, com uma Amazónia irreconhecível e potencialmente a libertar, em vez de capturar, carbono; com vastas zonas do globo – as mais populosas – inabitáveis; com climas mais extremos e imprevisíveis. Teremos desigualdades sociais existenciais (assumindo, com um grande grau de certeza, a falta de solidariedade internacional nesta área) e investimentos de adaptação muito mais avultados do que os que teríamos de fazer agora para acelerar a transição e minorar as alterações climáticas.

Teremos também uma perda de biodiversidade catastrófica que, em termos puramente utilitários, reduz a resiliência e a adaptabilidade da nossa biosfera (onde nós nos incluímos). Ficaremos por isso mais expostos diretamente, e através da nossa cadeia de alimentação, a perigos biológicos (como pragas, pandemias, etc.) significativamente mais letais. Nos próximos 50 a 100 anos poderemos destruir o equilíbrio evolutivo ímpar que o nosso planeta apurou durante muitos milhões de anos. Estamos a forçar a natureza a mudar em séculos o que na sua evolução natural demoraria provavelmente centenas de milhares de anos – o resultado não vai ser bom. Será mesmo que somos capazes de construir um mundo natural melhor que o que temos? E em nome de quê?

Os mais otimistas dirão que o génio humano e o desenvolvimento tecnológico vêm sempre em nosso auxílio. Concordo que o fim do mundo ou da raça humana (salvo por catástrofe atómica) não está de todo no horizonte. Mas está a nossa condição humana e a forma como nos identificamos enquanto espécie neste planeta partilhado e finito.Seríamos felizes a viver num mundo irreconhecível, e sem a nossa relação absolutamente umbilical com o mundo natural – de onde vimos, do qual somos parte integral e para o qual partimos? Seríamos felizes ao condicionar irremediavelmente o mundo que deixamos às gerações futuras?

Estas são questões demasiado importantes para empurrar para a frente. O génio humano – em que firmemente acredito – não é apenas tecnológico, mas também assente em decisões civilizacionais críticas e de bom senso. Estamos numa dessas encruzilhadas: agora é chegado o tempo de decidir e agir decisivamente em conformidade e sem medo.

E há razões para ser otimista. O desenvolvimento tecnológico e o investimento em energias alternativas nunca foram tão grandes, e este último superou pela primeira vez no último ano o investimento feito em combustíveis fósseis. A maior parte das empresas e organizações está empenhada em construir um mundo mais sustentável, percebendo que faz sentido estratégico apostar nesta transição. Os cidadãos estão cada vez mais alertas para as consequências das suas decisões de consumo. E em termos globais, estamos a gastar 7% do PIB em atividades nocivas para o clima e a biodiversidade (2 pontos percentuais vêm dos cofres públicos) – o que mostra que há disponibilidade financeira que pode ser redirecionada, com políticas económicas adequadas, de forma gradual e mais produtiva para combater este problema.

A Europa tem um papel essencial a desempenhar. Com os EUA distraídos (o presidente Trump é apenas uma consequência e não a causa do problema), mas a China alinhada (embora sendo o maior poluidor é também o maior investidor na transição energética do mundo), há potencial suficiente para continuar a inovar nas tecnologias de transição, absolutamente indispensáveis a um desenvolvimento mais sustentável e a um futuro económico competitivo.

Como cidadãos da Europa, temos o dever maior de provar que uma democracia liberal é o contexto ideal para um desenvolvimento economicamente competitivo, socialmente equilibrado e respeitador do equilíbrio natural do nosso mundo absolutamente incrível! Estamos obrigados a usar o nosso poder como trabalhadores e gestores; eleitores e governantes; e como consumidores para sinalizar a nossa confiança plena nesta solução. Vêm aí tempos difíceis e decisões penalizadoras no curto prazo – o melhor de nós, enquanto indivíduos e sociedade, terá de vir ao de cima. Devemo-lo a nós próprios, às gerações passadas e sobretudo às futuras.

A Europa precisa de nós. O mundo precisa de nós. Já não há dúvidas ou desculpas – agora é o nosso tempo.

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